08/12/08










Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria?
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos pra partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De que outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca

11/10/08

SAUDADE

Saudade não significa que estamos longe um do outro, mas sim que estivemos juntos algum dia.

14/08/08

IN MEMORIAN

Bertolt Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 — Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo, tornando-o mundialmente conhecido pelas apresentações de sua companhia o Berliner Ensemble realizadas em Paris durante os anos 1954 e 1955.


POEMA LUNAR

Primeiro levaram os comunistas,
mas eu não me importei
porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
mas a mim não me afectou
porque não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
mas eu não me incomodei
porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
de alguns padres, mas como
não sou religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
e quando percebi,
já era tarde.


Bertolt Brecht

25/07/08

A FÁBRICA de Fernando Pessoa

A Fábrica

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um.

O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."

Álvaro de Campos, 15-1-1928

10/04/08

PURO FUNDAMENTALISMO ... P***A!!!



Primeiro foi o tabaco ... agora são os telemóveis !!!

O que que se seguirá ? Roer as unhas em público ? Mascar pastilha elástica ?
Será que estas mentes vitorianas não nos vão deixar escolher o nosso "modus vivendi" mesmo nos pormenores mais individuais ? Mas ... afinal que são estes actuais Alphas e Betas ?
Será que caminhamos a passos largos rumo ao "Admirável Mundo Novo", como vaticinava Aldous Huxley, com a variante de o stablishment substituir a função reguladora do Estado ?
Que imperativos éticos e morais estão subjacentes a estes novos conceitos do "politicamente e socialmente correcto"???
E isto passa-se, afinal, no País em que o volume de negócios da indústria cinematográfica da pornografia "legal" suplanta em muito o da indústria cinematográfica de Hollywood ...
Afinal onde começa e acaba a liberdade individual ? E o livre arbítrio ?
"De nada adianta a liberdade, se não temos a liberdade de errar." - Gandhi

05/04/08

MAPAS DA VIDA

" Todas as noites, quando a estrelas se tornam mais pensativas, quando os homens voltam do seu trabalho e têm tempo de pensar no que fizeram ou no que farão, quando se ouvem nos caminhos os cantos e os intrumentos daqueles que não podem esquecer, nós nos debruçamos sobre os nossos mapas e procuramos com os olhos, um pouco húmidos, e a mão, um pouco trémula, o itinerário da nossa vida ". Giovanni Papini